Chegou cansado do trabalho, entrou em seu quarto, colocando sua mochila em um canto qualquer. Tirou o sapato social, enquanto desabotoava sua camisa cinza, puxou-a para cima de forma que saisse de dentro da calça e sentou-se na ponta da cama. Era orgulhoso demais para admirtir a dor que sentia. A cama de casal parecera maior que nunca. Levantou, tirou o cinto, e deixou a calça cair, tirou suas meias quando a calça tocou o chão aproveitando o fato de ter que levantar os pés para sair de cima da roupa.
Caminhou até o armário e o abriu, do lado das suas roupas, as roupas dela, intocavéis, já fazia algum tempo que ela partira, e ele nem se quer teve coragem de mexer nas roupas. Ele balançou a cabeça, negativamente, fechou os olhos mas era tarde a lágrima já havia escorrido. Colocou o polegar e indicador direito no canto dos olhos para enxugá-los e caminhou para sala.
Abriu sua pequena copa, pegou seu velho e bom whisky, colocou duas pedras de gelo, serviu seu copo. Sentou-se em sua poltrona confortável próxima a uma de suas paredes espelhadas. A Lua estava coberta; sinais de chuva a caminho; Lembrou que lendo Clarisse Lispector desobriu que chuva representava mudança, mas não deu bola. Apoiou o copo na mesinha ao lado da poltrona, como tantas vezes fez para que ela sentasse em seu colo. Ele cansara.
Havia de deixar toda a tristeza sair; fechou os olhos e começou a lembrar, o beijo, a festa de casamento, a lua-de-mel, passaram por tudo, ela era tudo que ele poderia desejar. As tardes em um parque qualquer lendo um livro qualquer. O vento que batia no cabelo dela e jogava o perfume em sua face embriagando com o cheiro, o cheiro dela.
Sua respiração acelerou, seu corpo, cada célula, ele podia sentir o sangue passando. Como era difícil querer tanto sentir ela de novo, respirar o perfume dela, o pescoço aveludado. As lágrimas vinha sem parar e ele as deixou cair, ele precisava daquilo, ele necessitava. A chuva começou e ele sabia que era difícil para ele te-lâ perdido. Era pior ainda saber que não havia sido escolha dela, nem dele.
Ele se sentia culpado, culpado por estar viajando, ele sabia que era a trabalho, mas se culpava. Era mulher dele, somente dele. Com aquela dor ele sentiu seu corpo relaxar de uma forma estranha e sua visão escurecer. Dormiu. Durante o sono sua mente voou, foi longe, um sonho tranquilo mas que era com ela.
Ele abriu os olhos, eram cinco e trinta da manhã e o sol lhe batia no rosto, olhou para o lado viu o copo de whisky quase da cor de água por causa do gelo. Respirou fundo e percebeu que estava leve. Deixara toda angústia ir embora. Ele olhou para fora, de casa e percebeu era hora de seguir em frente.